SÍRIA E A DESUMANIDADE DA RUSSIA, CHINA E BRASIL

Hoje de manhã redigi um texto sobre a posição da China, Rússia e Brasil no que respeita a situação dramática em que se encontram os manifestantes sírios, mas lamentavelmente cliquei equivocadamente em uma tecla e acabei perdendo todo o escrito. Mas, como acho o tema relevante, volto à carga.

Governada por Bashar al-Assad desde 17 de julho de 2000, portanto há mais de 10 anos, este ascendeu ao poder após a morte de seu pai Hafez al-Assad. O sistema eleitoral sírio é corrompido, pois embora tenha aspecto multipartidário, quem realmente domina é o Partido Árabe Socialista Baaz, que tem Assad à frente.

Quando da “eleição” de Assad, permeava esperança entre os sírios, que contavam com um dirigente que trouxesse ventos democráticos ao país. Mas qual não foi a desilusão quando se percebeu que o novo líder daria seqüência ao velho modelo praticado pelo pai.

Com efeito, tendo em vista que as mudanças não vieram, ficou a Síria privada do sistema de pesos e contrapesos característicos dos regimes democráticos, que funcionam como amortecedores dos conflitos.

Segundo o jornal O Estado de São Paulo de hoje, 11/06, a Turquia já recebeu 2.400 refugiados nos últimos dias, sendo que há na sua fronteira mais de 4.000 tentando obter abrigo. Tudo isso por conta da repressão sangrenta que as Forças Armadas síria aplicam aos manifestantes desarmados.

A informação é no sentido de que forças de segurança da Síria usaram cinco helicópteros artilhados contra os manifestantes no norte do país, matando ao menos 32 pessoas. O fato é que o sofrimento do povo sírio é silencioso, pois os jornalistas estrangeiros estão proibidos de entrar no país, de modo que o relato sobre a barbárie é precário.

Para se ter uma idéia da desumanidade do regime sírio, passo a transcrever parte do que relata o correspondente do Estadão em Paris, Gilles Lapouge: “Às vezes, o poder sírio admite seus desatinos. E o faz para intimidar este inimigo, que é todo o povo em cólera. Os torturadores arrancaram as unhas e os dentes de meninos de 12 anos que reproduziram os mesmos slogans que as multidões usaram na Tunísia e no Egito. Uma criança foi jogada na prisão, torturada e o seu corpo irreconhecível foi entregue à família. O objetivo: aterrorizar os pais para que controlem os filhos revoltados”.

E o que nós estamos fazendo para conter essa tragédia? A ONU tem tentado, através do Conselho de Segurança aprovar uma Resolução contra a Síria, mas ante a oposição da Rússia e da China, não se consegue chegar a um texto eficaz para conter a brutalidade de Bashar al-Assad. E com isso o povo sírio aos poucos vai sendo trucidado contínua e silenciosamente.

A minha repugnância se torna mais eloqüente quando tomei ciência que o Brasil votará alinhado à Rússia e China, como integrante do conselho rotativo. É lamentável que isso ocorra, pois são os direitos humanos que carecem de amparo nesse momento.

Se a Rússia, China e Brasil colocam empecilhos à aprovação de uma Resolução eficaz contra a Síria, se negando a confrontar o regime sanguinário de Bashar al-Assad, devem ser declarados cúmplices do sofrimento, dor e morte daquele povo, e doravante responsabilizados por tudo o que vier a ocorrer de grave com os democratas daquela nação.

Comentários